domingo, 28 de setembro de 2008

A pastilha cor de rosa

Esse conto surgiu partindo de um trecho do texto "Medo da Eternidade" de Clarice Lispector

Eu caminhava confuso naquela rua escura, mas cheia de neons. Com as mãos no bolso, tateava minhas moedas tentando reconhecer o valor impresso de cada uma delas com o objetivo de conferir quanto dinheiro eu tinha disponível para aquela aventura. Era pouco, mas minha motivação era maior, o que me possibilitou agir em busca do meu objetivo.
Fui subindo a ladeira, saboreando o perfume doce que o vento trazia repleto de vozes macias e aveludadas.
A paisagem, apesar da rua escura, era aos poucos descoberta pelas luzes de néon que revelavam cores fortes e de diferentes texturas, e as curvas que eram desvendadas pelo tecido grudado à pele.
Fiquei ali, parado num canto ao lado de um edifício escondido entre poucas árvores sobreviventes daquela cidade cinza. Na espreita observava com a boca cheia de saliva, sentindo espuma e sangue nos lábios.
E a mais bela de todas as raparigas sorriu para mim com seus lábios rosados.
Por alguns instantes fiquei ali, imóvel, congelado por aquele sorriso de mulher experiente.
Apertei minhas moedas no bolso tentando conferir quanto eu tinha para comprar a passagem daquela aventura. Temi que ela não aceitasse....Fechei os olhos e em silêncio fiz um pedido.
Quando acordei estava ali deitado naquela cama estreita, com cheiro de alfazema no ar.
(...) Peguei a pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre.(...) E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta (....)

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