sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Formas de devaneios

Hoje, 31.01.2014, lendo Milton Hatoum no Caderno 2, fiquei feliz e ao mesmo tempo emocionada. Relembrar a infância é sempre bom. Quando revisito minha memória, vem um sorriso em meu rosto e a imagem de minha mãezinha sempre muito carinhosa comigo e com meus quatro irmãos. Éramos pobres, o dinheiro era curto, mas o carinho e o cuidado eram imensos. Quando li sobre a cristaleira da Tia Tâmara, no texto de Milton Hatoum, veio a imagem imediata da cristaleira de minha avó. Até hoje não sei porque me recusei a ficar com aquela cristaleira quando minha avó partiu. Ninguém queria. Eu queria e não me manifestei. Ela (a cristaleira) deve ter ido parar num desses caminhões do Exército da Salvação. Ficou "na" e "a" memória. Do barulho da porta da cristaleira se abrindo. Do cuidado da avó para pegar um copo colorido e do avô pegando seu galinho que mudava de cor conforme a temperatura ou do cavalinho fixado sobre um tonel que mexia suas patinhas. Quando a Tia Tâmara ( do Hatoum), que amava os cristais de sua cristaleira, notou que haviam roubado tudo, passou a injuriar a polícia e o marido, cujo ar blasé a irritava. E para Hatoum, a cristalera perdera sua magia. O ladrão roubara seus sonhos marítimos. Isso porque ele gostava de olhar através do vidro e o que mais lhe chamava a atenção eram os caracóis e cavalos marinhos. Só sei que depois de um tempo os cristais reapareceram. Tinha sido obra do tio, envolvido em dívidas. Mas a tia acabou acreditando num milagre, porque contra crenças, não há argumentos. Eu eu quero sempre acreditar em milagres e no sonho, porque Paulo Freire já dizia: " Utopia é só sonho, e sonho é coisa de quem vive, porque quem não sonha, já morreu em vida"

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